A Galeria 32 da Embaixada Brasileira ainda nao havia aberto suas portas ao publico quando encotrei, para um bate-papo, o artista plastico Giacomo Picca. Depois de uma breve sessao de fotografias nos sentamos no chao de madeira da galeria para desvendar os seus anos como artista e a exposicao Tree For The Wood, ultima etapa do projeto Art Brazil +, que por 11 meses vem mostrando trabalhos de diversos artistas brasileiros com intencao de “ … colocar a explosiva e paradoxal arte do Brasil firmemente no mapa”


O paulista Giacomo Picca vive em Londres desde 88 onde chegou depois que decidiu que se nao parasse para realizar o sonho de viajar naquele momento, arriscaria nao poder faze-lo por um bom tempo. A viajem, planejada muito antes do dia da partida, tinha como obrigatoriedade visitas a museus e cidades historicas num desejo de atestar a veracidade das imagens exaustivamente vistas em livros de arte. O percurso de Giacomo, no entanto e enquanto artista, nos transporta a tempos ainda mais distantes, quando nem mesmo ele se via como artista - pelo menos em conformidade com o que entendemos como “ser” um artista.


Descendente de imigrantes italianos, Giacomo foi, desde muito cedo, incentivado pela familia a trabalhar e criar com as maos e se viu rodeado por residuos dos trabalhos do pai, com os quais dava forma a sua imaginacao. Sem qualquer pretencao comeca a frequentar aulas de desenho com uma vizinha e amiga da familia e, algum tempo depois ganha o seu primeiro estojo de pintura e parte para um nivel mais alto em termos de aprendizado. Passa entao a fazer cursos rapidos e “workshops”. Hoje Giacomo liga a sua formacao como Engenheiro Civil diretamente a arte, cita Leonardo da Vinci e a sua interacao com a matematica, filosofia e anatomia. Ele fala da visao que tem de um edificio como uma escultura habitada, pura arte. Os anos qua passou trabalhando diretamente com os operarios da construcao civil contribuiram para uma percepcao de uma realidade social mesquinha e injusta que obviamente sao reveladas nas facetas das obras que cria. Mas essa influencia nao fica por ai!!! Essa curiodade em relacao ao diferente fez com que o periodo de adaptacao em Londres, que quase sempre envolvendo trabalhos simples, fosse menos sofrido.


Depois de quase um ano Giacomo vai a Holanda, compra uma Kombi, que foi devidamente modificada e viaja por 7 meses por toda a Europa, realizando o sonho antigo. Como os referenciais que tinha sempre foram os Grandes Mestres, as visitas a Roma, Florenca e Paris eram apreciadas ate o ultimo instante e os museus dissecados ate o fechamento. O artista nato ainda nao tem consciencia de que o interesse que a arte lhe desperta vai alem da simples visitacao turistica. Depois que volta a Londres Giacomo vive em “banho-maria” ate decidir fazer um curso de fotografia. Durante a matricula descobre cursos de desenho com modelos vivos que o transporta a tempos em que os grandes mestres desenvolviam seus estudos. Matricula-se em todos os cursos disponiveis e assim fazendo, organiza seu proprio programa curricular. Nesse ambiente onde respirava-se, comia-se e dormia-se arte, Giacomo tem um desenvolvimento extraordinario. Do mesmo modo inicia a utilizar a tinta, que sempre foi um desafio, e a desenvolver um estilo proprio. A partir dai, seguindo os passos de um amigo – Alexandre Tatit – submete os seus trabalhos, compostos por retratos e nus, ao Chelsea College of Art & Design e e imediatamente aceito dando o promeiro passo para a sua formacao academica como artista que envolve tambem a Wimbledon Scholl of Art e a renomada Goldsmiths College, braco da University of London.


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Caro Giacomo,

Gostaria que voce respondesse a algumas perguntas em relacao a exposicao para que possamos aproveitar o espaco e divulga-la. Sinta-se livre para responder as perguntas e/ou fazer quaisquer comentarios em relacao a natureza do texto.

Luiz Santos


Como foi a aproximacao entre voce e a Galeria 32?
Alguns nomes de artistas foram submetidos a Galeria por Michael Asbury, ele na epoca tinha trabalhado como co-curador da exposicao - “Century City”, na Tate Modern. Enviei o meu portofolio, onde entao, se iniciou todo o processo para a exposicao .

De onde vem a inspiracao para o projeto “Trees For the Wood?
Trabalhar com imagens que qualquer pessoa pode fazer, acessivel a qualquer tipo de pessoa. Como acredito que qualquer um de nos ja desenhou uma arvore ou uma montanha. Os trabalhos sao simplificados e reduzidos aos elementos basicos que fazem deles uma arvore numa paisagem.

Qual a tecnica utilizada e quais sao as dificuldades envolvidas?

As ideias sao inicialmente esbocadas com lapiz`em papel.
Uma vez desenvolvidas as ideias, uso o computador para editar e ajustar os elementos das composicoes e cores. Existe neste estagio, uma transformacao do desenho manual, para um desenho digital e novamente para um desenho manual. Finalmente, o desenho e projetado na superficie para ser pintado. Os materiais utilizados nos trabalhos sao industrializados. O tipo de tinta e o mesmo usado em nossas casas para pintar armarios e portas. Eu trabalho com a ideia de serializacao e modulos. As pinturas sao em madeiras compensada e sao todas da mesma dimensao. No caso da instalacao “Trees for the Wood” a imagem da arvore e repetida em 50 chapas de madeira. A dificuldade maior foi mais no preparo e corte das madeiras devido as dimensoes e peso.

Existe algum apelo politico/ecologico na medida em que voce reafirma a presenca de elementos na sua obra removendo parte da sua superficie?
Eu deixo a criterio do publico qualquer tipo de leitura. .
A remocao da superficie, e obviamente um ato agressivo, por outro lado, descubro outras camadas do material, outras formas e cores. E um momento de surpresa e é esteticamente bonito. Eu gosto destas contradicoes.

Qual e o publico que voce quer atingir?
Todo tipo de publico possivel, desde pessoas mais idosas ate criancas. Formados e nao formados.

O que voce espera atingir em termos de informacao para quem visitar a sua exposicao?
No final das contas e uma exposicao de arte em um ambiente de arte. Consequentemente, a exposicao neste contexto, e informativa em termos do que se produz, e dos tipos de liguagens usadas atualmente.

E quais sao as dificuldades que voce encotrou, ou continua encontrando, para se estabelecer como artista plastico no Reino Unido?
Se estabelecer é ter estabilidade. Estabilidade no mundo de hoje, é muito dificil, eu acho que poucas pessoas teem. A dificuldade e ter estabilidade. As dificuldades sao as mesmas para todos os artistas, ou seja, ter uma galeria que me represente.

Os resultados que voce vem colhendo sao os resultados esperados?
Sim, na medida do possivel. O mais gostoso e se deparar com alguma situacao que nao é esperada e resolve-la. Este e o momento de maxima criacão, reagir instantaneamente e intuitivamente a uma situacao. Acho que esta é uma qualidade de todos nós brasileiros.

“E agora Jose…?” Quais serao os proximos passos?
Continuar nesta jornada à procura de novas situacoes. No momento estou com uma proposta para uma exposicao no meio do ano.

Muito Obrigado Luiz

Luiz Santos conversa com Giacomo Picca - 2003